Proposta quer alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente




Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados pretende modificar a  Lei nº8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), determinando a internação por período superior ao que prevê a legislação vigente. O Projeto de Lei 3503/12, de autoria do deputado federal Ronaldo Benedet (PMDB/SC), altera dispositivos do ECA para permitir o maior tempo de encarceramento de adolescentes que cometem atos infracionais de maior potencial ofensivo, mediante avaliação psiquiátrica semestral. Em tempos de unidades de internação superlotadas, a medida pode afogar o sistema socioeducativo.  A  coordenadora das Varas da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), juíza Janete Pantaleão, lamenta mais essa tentativa de alterar o ECA, que segundo ela sequer foi implementado efetivamente. Pantaleão afirma que os legisladores querem resolver problemas sociais criando dispositivos que criminalizam ainda mais a população. Para ela, é falta de respeito criminalizar ainda mais os adolescentes em vez de cumprir a legislação.

 Janete diz ainda que se os estados e municípios cumprirem o que determina o ECA, a repressão seria mínima. A magistrada completa dizendo que o Estatuto completou 22 anos em 2012 e não há disposição para dizer o que dele foi cumprido neste período. "Antes de se reformar qualquer coisa, primeiro precisa-se usar o que não foi feito com o ECA", disse a juíza.

O PL que está em análise prevê que o adolescente que comete ato infracional de alto potencial ofensivo possa ficar internado por um período que não poderá exceder a pena mínima prevista para o tipo penal equiparado ao ato infracional. Considerando que a pena mínima para crimes de maior potencial ofensivo é de quatro anos, o adolescente poderia ficar mais tempo encarcerado do que determina o ECA. Além disso, o projeto prevê que o adolescente passe por avaliação psiquiátrica a cada seis meses para fundamentar a decisão judicial.

 A magistrada classifica essas tentativas de alteração ao Estatuto como discurso vazio, formulado para criminalizar ainda mais crianças e adolescentes envolvidos, principalmente, no tráfico de drogas. A juíza ressalta que o envolvimento dos adolescentes no tráfico e uso de drogas tem raiz em um problema social que pode ser resolvido no âmbito dos estados e municípios. O Espírito Santo, segundo ela, dispõe de apenas 12 vagas para tratamento de dependentes químicos, para uma população de 3,5 milhões de habitantes, por isso, é necessário haver mais vontade política para evitar a entrada dos jovens no tráfico e uso, além de garantir tratamento para drogadição.

Matéria: Lívia Francez



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